Sentada num dos degraus da
escada, Clara rabiscava um dinossauro em um jornal antigo.
Sua mãe limpava com agilidade e
pressa o chão do primeiro andar. Sabia que o ônibus não demoraria e, perdido
aquele, não chegariam tão cedo em casa.
A menina terminou o desenho e foi
mostrar para a mãe, que não lhe deu muita bola e apenas balbuciou um “nossa, que
lindo!” maquinal.
Clara, então, decidiu ajudar. Pegou
o rodo com suas pequeninas mãos e tentou puxar a água, contudo a pouca coordenação
não deixou. A mãe sorriu um pouco...
Chegaram, finalmente, ao térreo. Estava
tudo muito sujo devido aos ventos incessantes de agosto. Sem pestanejar, a mãe
lançou logo um balde de água no chão e esfregou instintivamente. Clara, por sua
vez, abandonara o rodo e agora se divertia correndo no estacionamento.
Nem bem a criança fez amizade com
alguns pombos e a mãe já lhe gritava, açodada, que era hora de
ir embora.
Despediram-se afobadas do
porteiro e começaram a subir a longa e íngreme ladeira que abrigava o ponto de
ônibus mais próximo em seu cume. A subida era realmente extensa e o dia exaustivo deixava
tudo deveras penoso.
Clara, ofegante, caminhava
ligeira com seus pequenos passos e choramingava querendo colo. A pobre mãe já
não tinha corpo no qual abrigar a filha, pois carregava sacolas, mochilas e
algumas compras que fizera.
Chegaram, enfim, e, aliviadas, viram aproximar-se a condução.
Apoiada em seus próprios joelhos,
ainda procurando sugar algum ar, Clara sentenciou: - Mamãe, já estou cansada
desta vida! Quero voltar à barriga da senhora!
A mãe riu um riso genuinamente
feliz, pegou-a pela mão e juntas entraram no ônibus.