terça-feira, 30 de junho de 2020

Clara

Sentada num dos degraus da escada, Clara rabiscava um dinossauro em um jornal antigo.

Sua mãe limpava com agilidade e pressa o chão do primeiro andar. Sabia que o ônibus não demoraria e, perdido aquele, não chegariam tão cedo em casa.

A menina terminou o desenho e foi mostrar para a mãe, que não lhe deu muita bola e apenas balbuciou um “nossa, que lindo!” maquinal.

Clara, então, decidiu ajudar. Pegou o rodo com suas pequeninas mãos e tentou puxar a água, contudo a pouca coordenação não deixou. A mãe sorriu um pouco...

Chegaram, finalmente, ao térreo. Estava tudo muito sujo devido aos ventos incessantes de agosto. Sem pestanejar, a mãe lançou logo um balde de água no chão e esfregou instintivamente. Clara, por sua vez, abandonara o rodo e agora se divertia correndo no estacionamento.

Nem bem a criança fez amizade com alguns pombos e a mãe já lhe gritava, açodada, que era hora de ir embora.

Despediram-se afobadas do porteiro e começaram a subir a longa e íngreme ladeira que abrigava o ponto de ônibus mais próximo em seu cume. A subida era realmente extensa e o dia exaustivo deixava tudo deveras penoso.

Clara, ofegante, caminhava ligeira com seus pequenos passos e choramingava querendo colo. A pobre mãe já não tinha corpo no qual abrigar a filha, pois carregava sacolas, mochilas e algumas compras que fizera.

Chegaram, enfim, e, aliviadas, viram aproximar-se a condução.

Apoiada em seus próprios joelhos, ainda procurando sugar algum ar, Clara sentenciou: - Mamãe, já estou cansada desta vida! Quero voltar à barriga da senhora!

A mãe riu um riso genuinamente feliz, pegou-a pela mão e juntas entraram no ônibus.