E
a conversa terminou com um “boa noite” seco, mas que continuou bate-estacando
insistentemente. Colocou os fones e ligou sua banda favorita no volume máximo.
Queria asfixiar o pensamento, esse canalha. Não conseguiu!
Procurou em vão algum
assunto vago na internet, esquadrinhou conversas despropositadas de uma rede
social qualquer, pegou um copo d’água... nada funcionou. Vasculhou na memória
toda a conversa até o derradeiro cumprimento, refez os caminhos e projetou saídas
que talvez tivessem mudado o rumo da prosa. Lamentou, praguejou, mas era em
vão.
Lembrou, ainda, de
todas as conversas agradáveis que tivera naquelas mesmas condições e tratou
logo de xingar-se por ter sido tão ele mesmo. Quem quer se encontrar com quem
(ou o quê) a gente realmente é? Ninguém em sã consciência. Somente os
desavisados, que logo saem de fininho, e os apaixonados, que, se não fogem aceleradamente,
têm grandes chances de ficar, às vezes até por todo sempre - confesso que nem
em mesmo tenho paciência com todo esse meu lengalenga, com toda essa pseudo
verdade no olhar.
Lá pelas tantas, os olhos
ardendo pelo uso abusivo do computador e por um sono que já havia passado da
hora de ser saciado, após ter lido sem compreender um monte de coisa da qual
nem se lembrava mais, olhado fotos que enfeitavam sua escrivaninha, decidiu
escrever uma mensagem para tentar contornar a situação. Desistiu! Péssima ideia.
Antes, foi até a cozinha e serviu-se uma dose de um whisky velho que jazia há
tempos ali. Cheirou, rodou, fez menção, mas deixou de lado o copo. Sábia
decisão!
Resolveu deitar-se e
procurar o sono que lhe havia fugido. O ventilador velho não dava conta do
calor e um banho gelado foi inevitável. Encostou a cabeça no travesseiro, rodou
pra lá, pra cá, voltou pra lá novamente, ajeitou as pernas, a coluna, mas o
pensamento ia longe, tão longe. Levantou-se e ligou a TV, zapeou, zapeou, mas
nada interessava. Foi à cozinha, tomou outro copo d’água, abriu a geladeira e
procurou dentro dela o pensamento perdido, ou, com alguma sorte, um sentido pra
tudo aquilo.
Após muita luta,
desistiu. Pegou uma cadeira e resolveu esperar o amanhecer que já dava os
primeiros sinais de vida. A lua logo foi perdendo o brilho, as estrelas foram
dormir e os pássaros acordavam serelepes e assoviavam cantigas que de tão
afinadas causavam-lhe enjôo. Era hora de um café. Passou um sem muita
habilidade e tomou imediatamente, fazendo careta.
Após comer umas
bolachas velhas que esperavam murchas em cima da mesa, tomou um longo banho, trocou-se
e foi ao trabalho. Apesar de destruído, vestiu logo aquela máscara feliz e
despreocupada de sempre, deu um longo bom dia a todos, sentou-se e representou
bem o dia todinho. Contudo, entre um sorriso e outro, lembrava-se daquele “boa
noite” seco, difícil de engolir, e sentia o peito apertar, porque não sabia
ainda o que viria após aquilo.
No final do dia,
voltando pra casa, pode novamente voltar à órbita sem órbita dos pensamentos. Pensou
muito, não ligou, não falou, nunca mais procurou, tudo por medo de perder o que
deveras havia perdido.
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