Nem um dia a mais,
nem um dia a menos.
Há somente o instante
e delírios com a eternidade.
Do meu quarto,
travestido em prisão,
espero sair
reabilitado.
Cá comigo: alucinação!
Trabalho casmurro;
Romances estéreis;
Mortes e mortes e
mortes;
Over
information;
Alienação virtual;
Suportar o dia a dia
e a agressão do real.
Pela janela apertada,
resignado, assisto
à paisagem concretada,
cinza e congelada.
Aglomerado de gaiolas!
Ilhas verticais!
Corpos cansados!
Almas rendidas,
despidas,
chorando, caladas,
no chão gelado da
solidão.
PS: Escrito durante a pandemia da Coivd-19, em abril de 2021.
Platão passou por aqui
e pediu pra avisar:
“essa sombra
no celular
não vai lhe bastar,
não, não vai.
É pele roçando pele,
e cheiro fogoso oxigenando
as veias e artérias
do corpo e d’alma.
É sangue quente,
pulsante, enrijecido,
no covil embebido.
Calor que não se abranda
senão com saliva”.