segunda-feira, 24 de abril de 2023

Orvalho

 

Como se não houvera turva madrugada,

você orvalhou, sorriu

e eu amanheci.

 

E o refletor renunciou à tristeza

e alumiou uma canção

que aguardava numa mesa,

no canto do salão.

 

Era um três por quatro,

escrito nestas andanças,

meio chocho, meio lasso,

e que falava de esperança.


Um dedinho de Sartre

 

angustiado, nauseado,

condenado à liberdade de escolher

e abandonar

e escolher

e abandonar

e a receber um final não imaginado

 

reprimido, acorrentado

por outras escolhas alheias sonhadas

soterrado pelo fardo-benção

de poder escolher o que fazer

com o que fazem com você


continuamente moldando a essência

com a matéria prima da existência

Um dia vão dizer que foi sorte

 

sábado

onze da noite

a tela do computador exala luz

e deformaumenta minha sombra

todas as outras telas dormem

exaurido, visto um sorriso surrado

uma foto

um storie

“um dia vão dizer que foi sorte”

 

Não me encare com esse olhar!

O que você quer de mim?

Amor? Compaixão?

Não devemos nada um ao outro.

Sabíamos, desde o início:

éramos crianças brincando com fogo.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

 

Soturno, nublado,

clamei à poesia.

Ousei um poema.

Mas a tristeza condensou,

choveu e verteu pela face.


quinta-feira, 13 de abril de 2023

Pitadas de Tafofobia

 

Enterrei um sentimento

enquanto ele ainda vivia,

e em muito pouco tempo,

ora, ora, quem diria?

Ele ressurgiu morto-vivo,

desses de série estrangeira:

não morrem nem com tiro.

Desnorteou minh'estribeira.

Liberdade

 

Alheias e ubíquas vontades

destinam meu querer.

Possuído por minhas posses,

elas ditam meu viver.

Luxo é ser livre em meio ao luxo!

Cinco chances

 

Deus do céu, como a amo!

Devo dizer? Sim!

- Gosto muito de você.

Ansiosa, ao não ouvir o esperado,

ela interpreta como pouco-caso.

Descaminhos comunicativos.