sexta-feira, 30 de setembro de 2022

de Assis

 [...]

Os milésimos vão virar segundos;

os segundos, minutos;

os minutos, horas;

as horas, dias;

os dias, semanas;

as semanas, meses;

os meses, anos;

os anos, décadas;

as décadas, séculos;

os séculos, milênios;

[...]

Até faltarem palavras para batizar o tempo.

Até que, de você, existam somente os genes decantados

e o legado de miséria

que porventura transmitiu.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Projeção

Meus louvores foram todos platônicos,

criados à minha imagem e semelhança

e entoados para glória e louvor do meu ser.

 

Meus amores? Platônicos! Todos.

Criados à minha imagem e semelhança,

cultivados para o meu gozo e prazer.


sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Rock in Rio

pra onde eu olhava

mesmo distraído

alguém se divertia

e transava e comia

eu apenas vigiava

do outro lado da tela

viciado, enjaulado,

dopaminado

mórbido

pedindo mais,

muito mais

pixels, vertigens, corpos

dados, viagens, jogos

mais, muito mais

deitado no sofá

suado, com tesão

a janela na mão

eu vejo mais,

muito mais

do quintal esverdeado

do vizinho que deitado

suado, com tesão,

também segura em sua mão

janelas com gramados 

em incessante reprodução

um mundo inteiro de espelhos paralelos

Correntes

 

Andava resignado,

satisfeito, devoto

quase feliz

Incessante, o mundo girava

Até que um dia,

meio abobado,

resolvi levantar

e ao me mexer

senti algo atravancar

senti algo me prender

Eram as correntes

qu’eu não conseguia ver

por estar acostumando

tão docilmente aprisionado

tão loucamente apaixonado

pelo que me impedia de viver

domingo, 4 de setembro de 2022

Silêncio

Mafalda questiona,

cheia de porquês:

Pra onde vão nossos silêncios

quando sentimos sem dizer?

Do silêncio dos amigos,

lembraremos amargurados,

mais do que das palavras

dos que nos odiavam,

disse King certa vez.

O ditado sentencia,

sábio que só ele:

calar é ouro; falar é prata

ou quem cala consente.

E Confúcio vaticinou,

milianos atrás:

O silêncio é amigo

que nunca te trai.


sábado, 3 de setembro de 2022

autoflagelo

 protelador

cultua o sentir

protela a dor

esgota o vácuo doído

contorce-se até a última lágrima

Árvore nº 3

 

cúmulo do incômodo

é compreender-se plateia no palco

sem falas, nem deixas

apenas escada

pra quem recebe os aplausos

não há nome ou função

os refletores não acompanham

seus solilóquios, sua idiossincrasia