sábado, 26 de setembro de 2020

Coração

Meu coração

é pena voante

sem direção,

lápis que escreve

sem a mão,

música que toca

sem diapasão,

dança que se dança

sem a canção

e pulsa desvairado,

na contramão. 

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Pele preta

 

Mais uma vida escorre

pelo asfalto quente

de uma periferia.

O sangue é vermelho;

a pele é preta.

Gritos de dor e desespero

ecoam mudos,

às margens,

pelos séculos.

Aos montes,

amontoados,

corpos opacos ao relento.

sábado, 19 de setembro de 2020

Tempo

 

Somos passado e futuro,

um meio termo amorfo.

Absortos, imprecisos.

Sujeitos ao tempo; sujeitos do tempo.

De joelhos, desejamos o constante presente da eternidade,

cobiçando, em carne, não perder tempo.

E o que é o tempo pra que se perca?

Barcos à deriva num caos de acasos,

contemplamos, resignados, seu constante devir.

 

O tempo nos foge e circunda,

em sua metamorfose perene e cabal.

Metrificá-lo apenas nos aprisionou.

Por que nos fascina se, breves, temos tão pouco tempo?

Nascidos que somos de efêmera matéria,

morreremos, um pouco a cada dia.

Morreremos até que não exista mais nada para morrer.

Alfa e ômega, o Tempo é.



PS: Este poema foi publicado no livro "Cidade Poética", lançado na cidade de São José do Rio Preto/SP, em setembro de 2020.