Meu coração
é pena voante
sem direção,
lápis que escreve
sem a mão,
música que toca
sem diapasão,
dança que se dança
sem a canção
e pulsa desvairado,
na contramão.
Meu coração
é pena voante
sem direção,
lápis que escreve
sem a mão,
música que toca
sem diapasão,
dança que se dança
sem a canção
e pulsa desvairado,
na contramão.
Mais uma vida escorre
pelo asfalto quente
de uma periferia.
O sangue é vermelho;
a pele é preta.
Gritos de dor e desespero
ecoam mudos,
às margens,
pelos séculos.
Aos montes,
amontoados,
corpos opacos ao relento.
Somos passado e futuro,
um meio termo amorfo.
Absortos, imprecisos.
Sujeitos ao tempo; sujeitos
do tempo.
De joelhos, desejamos o
constante presente da eternidade,
cobiçando, em carne,
não perder tempo.
E o que é o tempo pra
que se perca?
Barcos à deriva num
caos de acasos,
contemplamos, resignados,
seu constante devir.
O tempo nos foge e circunda,
em sua metamorfose
perene e cabal.
Metrificá-lo apenas nos
aprisionou.
Por que nos fascina se,
breves, temos tão pouco tempo?
Nascidos que somos de
efêmera matéria,
morreremos, um pouco a
cada dia.
Morreremos até que não
exista mais nada para morrer.
Alfa e ômega, o Tempo é.
PS: Este poema foi publicado no livro "Cidade Poética", lançado na cidade de São José do Rio Preto/SP, em setembro de 2020.